Meus
pais se casaram muito jovens e me tiveram logo que casaram. Não me lembro de
muita coisa, mas, pelo que me contam, eu fui uma sobrevivente desta união que
durou 30 anos. Tenho mais duas irmãs e sempre cuidei delas, em especial da mais
nova, que era minha boneca de verdade.
Passamos
algumas dificuldades financeiras, mas meus pais sempre trabalharam muito para
sobrevivermos. Lembro-me muito da presença dos meus avós maternos e da minha
tia Rosa, irmã do meu pai, que também é a minha madrinha. Estas figuras foram
muito importantes na minha infância. Recordo-me também da engraçada Dona Neide,
da sua filha Tataca e das férias na fazenda do meu avô. Lá que eu passava
grande parte do meu tempo livre, misturada à molecada, sempre na sombra das
mangueiras e de uma figueira, a qual, até hoje, ainda embeleza aquele lugar.
Outro
ambiente que fez parte da minha infância foi a escola “A Sementinha”, que minha
mãe era uma das proprietárias. Presenciei, de perto, cada passo profissional
dela, por isso, ela é o meu maior exemplo de mãe, mulher e profissional. Ela
foi minha professora. Uma professora muito enérgica que, no primeiro dia de
aula, mandou que não a chamasse de mãe lá na escola, na frente dos coleguinhas
de classe, mas que a chamasse de tia Gleiva. Fiquei meio intrigada com aquilo,
confesso. No entanto, logo acostumei com a ideia e, hoje, entendo, o que na
época, foi difícil de entender: não podia aproveitar da situação só porque a
mãe era dona da escola e ponto. Grande lição!
Eu e
a minha mãe sempre éramos a primeira a chegar e a última a sair da escola e,
acostumada com aquela rotineira realidade, brincava sozinha ou com os filhos de
uma das sócias dela, enquanto aconteciam as reuniões entre as professoras.
Aquela escola era nossa, fazíamos o que queríamos. Brincávamos nas salas de
aula, no parquinho e bebíamos todas as garrafinhas de guaraná Arco-íris -
aquela de vidro verde- do barzinho da escola e, como não sabia usar o abridor,
furava a tampa de metal com a faca e ainda dava uma torcidinha que era pra
aumentar o furinho.
Havia
outros professores tão bons quanto minha mãe e todas as atividades eram muito
bem planejadas, pois se tratava de uma escola particular e ali estudavam alunos
da classe alta da cidade e, mesmo com pouca grana, tive o privilégio de estudar
nas melhores escolas da cidade.
Lembro-me
dos desfiles cívicos e apresentações culturais e... lá estava a Gabriela,
sempre no papel principal: Dançava, atuava, pousava e crescia... Crescia nesta
“folia” de escola ser lazer. Sempre tive a escola como minha segunda casa,
porque, em casa mesmo, só ia pra tomar banho, porque almoçava e jantava na casa
do vovô Zé, que me tratava por “princesona do vovô”. No entanto, disputando a
moela do frango com o meu tio Marcelo, passava meu tempo mexendo nas
roupas e nas maquiagens da minha tia Gisele ou recebendo bons exemplos
culturais do meu tio Marco Aurélio, o meu ídolo número 1.
Grandes
foram as lições durante a minha infância, meu pai sempre foi aquele que
“quebrava o climão” da realidade com o seu modo alegre de viver, rindo e
fazendo piada das situações mais conflitantes. Ele foi e sempre será a minha
válvula de escape, foi o meu pai que sempre me mostrou como enxergar a parte
otimista das coisas e, no final, este meu herói às avessas, sempre conseguiu se
sair “na moralzinha” de todos os conflitos.
Minha
família sempre foi unida e autêntica. Somos genuínos, vivemos de verdade e de
forma intensa, aprendi que somos uns pelos outros até o fim.
Hoje, aqui estou, colhendo alguns louros desta história
de vida que me orgulho em contar. Sou professora, filha, mãe, esposa, amiga,
irmã, sobrinha, nora, estudante... Porém, ainda que a minha essência seja única,
nunca serei a mesma Gabriela, procuro ser melhor a cada dia.
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