sábado, 14 de janeiro de 2017

Nem sempre Gabriela


Meus pais se casaram muito jovens e me tiveram logo que casaram. Não me lembro de muita coisa, mas, pelo que me contam, eu fui uma sobrevivente desta união que durou 30 anos. Tenho mais duas irmãs e sempre cuidei delas, em especial da mais nova, que era minha boneca de verdade.
Passamos algumas dificuldades financeiras, mas meus pais sempre trabalharam muito para sobrevivermos. Lembro-me muito da presença dos meus avós maternos e da minha tia Rosa, irmã do meu pai, que também é a minha madrinha. Estas figuras foram muito importantes na minha infância. Recordo-me também da engraçada Dona Neide, da sua filha Tataca e das férias na fazenda do meu avô. Lá que eu passava grande parte do meu tempo livre, misturada à molecada, sempre na sombra das mangueiras e de uma figueira, a qual, até hoje, ainda embeleza aquele lugar.
Outro ambiente que fez parte da minha infância foi a escola “A Sementinha”, que minha mãe era uma das proprietárias. Presenciei, de perto, cada passo profissional dela, por isso, ela é o meu maior exemplo de mãe, mulher e profissional. Ela foi minha professora. Uma professora muito enérgica que, no primeiro dia de aula, mandou que não a chamasse de mãe lá na escola, na frente dos coleguinhas de classe, mas que a chamasse de tia Gleiva. Fiquei meio intrigada com aquilo, confesso. No entanto, logo acostumei com a ideia e, hoje, entendo, o que na época, foi difícil de entender: não podia aproveitar da situação só porque a mãe era dona da escola e ponto. Grande lição!
Eu e a minha mãe sempre éramos a primeira a chegar e a última a sair da escola e, acostumada com aquela rotineira realidade, brincava sozinha ou com os filhos de uma das sócias dela, enquanto aconteciam as reuniões entre as professoras. Aquela escola era nossa, fazíamos o que queríamos. Brincávamos nas salas de aula, no parquinho e bebíamos todas as garrafinhas de guaraná Arco-íris - aquela de vidro verde- do barzinho da escola e, como não sabia usar o abridor, furava a tampa de metal com a faca e ainda dava uma torcidinha que era pra aumentar o furinho.
Havia outros professores tão bons quanto minha mãe e todas as atividades eram muito bem planejadas, pois se tratava de uma escola particular e ali estudavam alunos da classe alta da cidade e, mesmo com pouca grana, tive o privilégio de estudar nas melhores escolas da cidade.
Lembro-me dos desfiles cívicos e apresentações culturais e... lá estava a Gabriela, sempre no papel principal: Dançava, atuava, pousava e crescia... Crescia nesta “folia” de escola ser lazer. Sempre tive a escola como minha segunda casa, porque, em casa mesmo, só ia pra tomar banho, porque almoçava e jantava na casa do vovô Zé, que me tratava por “princesona do vovô”. No entanto, disputando a moela do frango com o meu tio Marcelo, passava meu tempo mexendo nas roupas e nas maquiagens da minha tia Gisele ou recebendo bons exemplos culturais do meu tio Marco Aurélio, o meu ídolo número 1.
Grandes foram as lições durante a minha infância, meu pai sempre foi aquele que “quebrava o climão” da realidade com o seu modo alegre de viver, rindo e fazendo piada das situações mais conflitantes. Ele foi e sempre será a minha válvula de escape, foi o meu pai que sempre me mostrou como enxergar a parte otimista das coisas e, no final, este meu herói às avessas, sempre conseguiu se sair “na moralzinha” de todos os conflitos.
Minha família sempre foi unida e autêntica. Somos genuínos, vivemos de verdade e de forma intensa, aprendi que somos uns pelos outros até o fim.
 Hoje, aqui estou, colhendo alguns louros desta história de vida que me orgulho em contar. Sou professora, filha, mãe, esposa, amiga, irmã, sobrinha, nora, estudante... Porém, ainda que a minha essência seja única, nunca serei a mesma Gabriela, procuro ser melhor a cada dia.

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